domingo, 1 de junho de 2008

Ainda sobre a reforma

Ontem assisti a um debate sobre a Reforma Ortográfica na TV. Estavam presentes, entre outros, o estudioso da língua Evanildo Bechara, membro da Academia Brasileira de Letras, e a cantora Fafá de Belém. Interessante perceber que a maioria dos debatedores era favorável à Reforma, ainda que não soubessem exatamente por quê.

Para o autor de uma das Gramáticas mais utilizada no país, a Reforma seria necessária porque a maioria das línguas têm ortografia unificada, como espanhol, italiano, russo, entre outras. No entanto, ninguém citou o caso conhecido da língua universal, o inglês, que tem duas ortografias muito distintas (basta folhear qualquer bom dicionário).

A única debatedora com argumentos lúcidos era a cantora Fafá de Belém, totalmente avessa à inútil mudança. Ainda que não dispusesse de muitos argumentos para se opor aos demais integrantes, soube manifestar a idéia de que a língua é patrimônio do povo. Não pode uma reforma imposta de cima para baixo (que ninguém jamais pediu!) mudar sem grandes razões a maneira pela qual escrevemos.

Afinal, é, para qualquer brasileiro, fácil de entender os livros de Saramago (por exemplo), mesmo na ortografia lusitana. Há grande beleza nas variações lingüísticas, tanto na ortografia quanto na morfossintaxe (que não será alterada). Se o escritor português não mais escreverá "acção" ou "óptimo", continuará escrevendo na sua sintaxe, utilizando-se muito pouco do gerúndio. Ou seja, não haverá uniformização, pois não se pode uniformizar a maneira de se falar ou de se escrever. Muito menos de cima para baixo.

Um comentário:

Anônimo disse...

"A língua é patrimônio do povo."
Frase belíssima.
Essa coisa de unicidade lingüística é pura "groselha".
O espanhol pode ter uma unidade ortográfica, porém sua diversidade oral é enorme: escute um espanhol, um argentino e um cubano.
Assim como as variação e lingüísticas que encontramos dentro do próprio Brasil, o que não impede que um paulista como eu entenda um cearense ou um gaúcho, memso havendo um vocabulário local, que não é o pequeno, diverso. O caso citado do inglês é muito evidente, e se trata da língua mais usada no mundo.
Como disse um professor meu entre o doutro Hans, formamdo em filosofia e socciologia, que aprendeu o mais puro e erudito português há 30 anos e a Dona Maria que vai à feira e pede "os limão verdinho" (veja que ela não disse limão verdinho os, ou seja seguiu direitinho a norma da língua) há 30 anos, esta nascida na Penha, é muito mais uma autoridade no Português que o Doutor Hans, pois desde que nasceu já tinha como um direito e dádiva o idioma de nosso país.