terça-feira, 31 de março de 2009

Material didático e escola pública



A imagem acima é de um mapa que consta em uma das apostilas distribuídas neste ano pelo governo de São Paulo nas escolas públicas. Ainda que o erro em relação aos países seja grave, não é só por isso que devemos criticar o material. O material todo é um erro. Os assuntos estão fora de ordem e desconexos, os exercícios muitas vezes não têm sentido, faltam textos e ilustrações.

Em suma, se era para fazer uma porcaria dessas, era melhor não terem feito nada. Na prefeitura, pelo menos, ninguém inventa moda, e utiliza-se, na maior parte das vezes, o material da Editora Moderna, que é muito bom.

Melhor nem falar mais nada.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Novo pacote é lançado

Nesta última semana foi lançado pelo governo federal o programa "Minha Casa, Minha Vida", cujo objetivo é construir 1 milhão de moradias para famílias com renda até dez salários mínimos. As regiões mais beneficiadas serão o Nordeste e o Sudeste, tendo em vista o déficit de habitações descrito pelo IBGE. As casas serão financiadas, e o comprador só começa a pagar depois que já estiver morando na casa, para evitar acúmulo de despesas.



Sem dúvida que foi uma atitude importante, a ter bons reflexos na área social. No entanto, algumas questões debatidas pelos especialistas nos mostram que há equívocos no Plano. Primeiramente, não é apenas através da construção de casas que se resolve o problema da habitação. Outras medidas mais baratas, como urbanização e regularização de áreas precárias já construídas, aluguel subsidiado e ocupação de prédios vazios podem ser alternativas melhores em alguns casos.

Outra crítica é que o plano estaria em desacordo com o Plano Nacional de Habitação, finalizado no fim do ano passado, e que trata da questão de modo mais amplo, buscando a regulação fundiária.

O que nos parece é que muitas medidas tomadas pelo governo federal, ainda que com boas intenções, carecem de maior debate público e de levar mais em conta a opinião de especialistas da área. Assim ocorreu e ocorre também na questão da transposição do Rio São Francisco.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Russell e ateísmo

Alguns trechos selecionados de Bertrand Russell. Comentários?

“Por conseguinte, julgo que, ao dizer-vos que não sou cristão, tenho de contar-vos duas coisas diferentes: primeiro, por que motivo não acredito em Deus e na imortalidade e, segundo, por que não acho que Cristo foi o melhor e o mais sábio dos homens, embora eu lhe conceda um grau muito elevado de bondade moral.”

“A questão da existência de Deus é de tal natureza que pode ser decidida a partir de bases muito diferentes por diferentes comunidades e diferentes indivíduos. A imensa maioria da humanidade aceita a opinião prevalecente em sua própria comunidade. Nos tempos mais remotos dos quais temos evidências históricas definidas, todos acreditavam em muitos deuses.”

"Como já disse, não creio que a verdadeira razão pela qual as pessoas aceitam a religião tenha algo que ver com argumentação. Aceitam a religião por motivos emocionais. Dizem-nos com freqüência que é muito errado atacar-se a religião, pois que a religião torna os homens virtuosos. Isso é o que me dizem; eu jamais o percebi."

"Eis aí a idéia – a de que todos nós seríamos maus se não nos apegássemos à religião cristã. Parece-me que as pessoas que se apegaram a ela foram, em sua maioria, extremamente más. Tendes este fato curioso: quanto mais intensa a religião em qualquer época, e quanto mais profunda a crença dogmática, tanto maior a crueldade e tanto pior o estado das coisas. Nas chamadas Idades da Fé, quando os homens realmente acreditavam na religião cristã em toda a sua inteireza, houve a Inquisição, com as suas torturas; houve milhares de infelizes queimadas como feiticeiras – e houve toda a espécie de crueldade praticada sobre toda a espécie de gente em nome da religião."

quarta-feira, 18 de março de 2009

Franco Corelli

Inspirado pelo "post" sobre Maria Callas no blog de meu amigo Danilo, vou colocar uns trechos de um grande tenor do século XX, Franco Corelli. Apesar de não ser tão conhecido pelo grande público, foi um cantor a ser colocado lado-a-lado àqueles mais conhecidos, como Del Monaco, Domingo e Pavarotti.

Vejamos uma ária de Andrea Chenier, "Improvviso", e uma canção popular, "Tu ca non chiagne", ambas de 1971:



domingo, 15 de março de 2009

Patch Adams & Rubens Paiva

Vou postar um vídeo e um texto que me chamaram a atenção neste fim-de-semana. Como se poderá observar, eles não têm nada a ver um com o outro. No entanto, um olhar mais atento verá que se complementam perfeitamente.

Entrei em contato pela primeira vez, apesar de já ter ouvido falar anteriormente, com a entrevista dada ano passado pelo médico norte-americano Patch Adams (o mesmo que inspirou o filme de Hollywood) no Roda Viva, da TV Cultura. Vou colocar um trecho, mas o ideal é assisti-la por inteiro (tem no Youtube). Mais do que uma pessoa que procura trazer alegria para dentro do hospital e melhorar a relação médico-paciente, Patch Adams mostra ter uma visão ampla da sociedade atual, e traz idéias para transformá-la.



No sábado, saiu a coluna do Marcelo Rubens Paiva, no Estadão. Ao contar um pouco de sua infância no Rio de Janeiro, ele faz uma reflexão sobre a sociedade e política brasileiras dos últimos anos. Vale a pena ler e pensar a respeito de sua interpretação:

Aos 6 anos me mudei para o Rio de Janeiro. Meu pai fugia do estigma de paulista comunista inimigo da ditadura. Cassado e exilado dois anos antes, no Golpe de 64, voltou para o Brasil clandestinamente e imaginava ter menos visibilidade e mais oportunidades na Guanabara.

Moramos no Leblon, a três quadras da Favela do Pinto. Na época, o bairro não tinha o status de hoje. Havia a favela dentro e um conjunto popular que assustava a elite, a Cruzada, o primeiro do gênero - criado por Dom Hélder Câmara. Bacana era morar em Ipanema e Copacabana.

Jogávamos futebol na rua. Eventualmente o jogo era interrompido:"Olha o carro." A regra era parar imediatamente. Cada rua tinha um time, com moradores da favela. A maior glória era jogar no campinho de terra da Cruzada. Lá, havia torcida e o campeonato era definitivo.

Minha rotina era de uma paz que nunca mais encontrei. Vivia na ex-capital do país, mas era como se eu estivesse numa pacata vila.

Eu circulava pelo bairro de bicicleta. Muitas vezes, tinha de parar para cumprimentar e papear com os amigos. Nunca fui assaltado. Nunca sofri qualquer tipo de violência. Psicopatia social não estava em nossos dicionários.

Pulávamos o muro do Clube Paulistano, para jogar bola. Depois, dividíamos o milk-shake com os que não tinham dinheiro. Enfiávamos vários canudinhos num mesmo copo e contávamos até três. Sorte daqueles que, com bons pulmões, conseguiam sugar mais rapidamente o sorvete.

No domingo, lotávamos uma Kombi para ir ao Maracanã, assistir ao Flamengo de Fio Maravilha, time do bairro. Os pais se revezavam. O meu nos levou certa vez. Ficou surpreso com a quantidade de palavrões que conhecíamos.

Num dia de semana a praia amanheceu apinhada. Toda a favela correu para lá. Estavam chamuscados. Crianças choravam. Carregavam seus pertences. Na água, bonecas com fuligem. A favela tinha pegado fogo. Foram os militares, diziam. Até hoje pairam dúvidas. Viram helicópteros sobrevoando a favela na noite da tragédia.

O tumulto durou uns dias. Certa manhã, tomávamos café, e um grupo de moleques invadiu nossa casa. Não falaram nada. Foram pra geladeira e comeram com as mãos o que encontraram. Nem nos levantamos da mesa.

Enfim, foram removidos. O filme "Cidade de Deus" começa com os favelados chamuscados chegando à sua nova moradia, coincidentemente recém-inaugurada.

O terreno abandonado foi aterrado em tempo recorde. Em meses, subiram prédios de até 17 andares. Os apartamentos foram comprados exclusivamente por militares, que receberam empréstimos descontados diretamente da folha de pagamento (soldos). O condomínio, que se estende por grandes quadras, com uma praça no meio, recebeu o apelido de Selva de Pedra, em homenagem à novela da Globo que fazia sucesso.

A especulação imobiliária expulsou o democrático futebol de rua. Enviaram os pobres para os guetos. E o convívio pacífico virou poeira.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Vamos esperar até 2022?

Se as péssimas notas que os professores de escola pública tiraram na última avaliação promovida recentemente não bastam para que algo de grande alcance seja feito buscando um ensino de mais qualidade, o jeito mesmo é esperar até 2022.

Sim, porque para o "Todos pela Educação" existem metas a serem cumpridas até 2022, ano do bicentenário da Independência. Interessante, mas se nada for feito, algumas destas metas são impossíveis de serem alcançadas, como se tem observado.

Em São Paulo, que deveria, até pela sua prosperidade econômica, proporcionar um ensino de mais qualidade a seus alunos, 72 por cento dos educadores que trabalham com alfabetização tiraram nota inferior a 6 no último exame promovido pelo governo.

Tendo em vista esses dados, o que fazer? Insistimos que, antes de qualquer coisa, o bom profissional da educação tem de ser valorizado, até porque, caso contrário, ele resolve trabalhar em um banco e entra um "meia-boca" em seu lugar...

sexta-feira, 6 de março de 2009

Aborto e excomunhão

Difícil não se manifestar a respeito das atitudes do arcebispo de Olinda e Recife, que excomungou imediatamente a equipe médica que praticou um aborto em uma menina de 9 anos que havia sido anteriormente estuprada pelo padrasto. Também a mãe da menina foi excomungada.

Cumpre salientar que a lei brasileira permite o aborto em casos como este. Nada mais correto.

No entanto, a Igreja é contra o aborto e a excomunhão seria a atitude a ser tomada segundo o Direito Canônico nestes casos. Questão a ser revista pelos teólogos. De qualquer modo, não havia necessidade de agir desta maneira em um caso tão complicado, o que nos faz pensar que o clérigo só fez isso para "aparecer". Não há outra explicação.

Ocorre que a Igreja deveria começar a planejar o Concílio Vaticano Terceiro logo, e mudar alguns dogmas ultrapassados.

terça-feira, 3 de março de 2009

Ensino Superior e cotas



Realmente prefiro, quando trato de educação, falar sobre problemas e soluções para a Educação Básica. Dificilmente falo do Ensino Superior, já que ele, em comparação com os demais níveis de ensino, vai "bem, obrigado". Mas a discussão nos "media" sempre diz respeito às Universidades.

Ontem mesmo saiu uma notícia falando das alterações que acontecerão no vestibular da Fuvest. O que se percebe - já há algum tempo - é que o vestibular cada vez mais prioriza a cultura geral dos alunos e suas habilidades cognitivas, em detrimento de decorebas ou assuntos específicos. Ótimo! O problema é que logo aparecem os grandes especialistas no assunto dizendo se as mudanças serão melhores ou piores para os alunos de escola pública. Ora, as mudanças atingem a todos, e os alunos de escola pública continuam em desvantagem, já que recebem um ensino mais fraco. Esta é a questão a ser discutida - a qualidade do Ensino Básico, e não o acesso à Universidade.

Do mesmo jeito, nas próximas semanas, o Senado vai discutir uma lei que obriga todas as Universidades Federais a reservar 50 por cento das vagas a alunos de escola pública. Constam também na lei as chamadas cotas raciais para negros, índios e pardos, ainda que de modo meio confuso, pois as vagas para os negros seriam destinadas proporcionalmente ao número de habitantes negros do Estado, o que deve causar problema.

É certo que o ingresso no Ensino Superior deva ser feito pelo mérito, até para que o nível do Ensino se mantenha forte. No entanto, o que se viu há um tempo - e já começou a mudar - foi uma elitização enorme das Universidades Públicas, o que não pode ocorrer. Cotas sociais ou bônus para alunos de escola pública são maneiras de atenuar este problema e dão nova vida à Universidade. Não vou entrar nos detalhes, mas quem viveu anos de vida acadêmica e/ou trabalhou em projetos de ensino para alunos de escola pública sabe do que estou falando.

Do mesmo jeito que há anos defendo as cotas sociais, sou contra as raciais, já que caem no grave erro de separar racialmente a sociedade. Mais do que anti-racista, a sociedade, e, por extensão, as leis devem ser anti-racialistas. Mas isso é assunto para o Senado, e no futuro para o STF.