Não precisa muito. Basta conversar com jovens de qualquer classe social. Ainda que você tenha uma mente aberta e liberal, não há como negar que os seus valores são cada vez mais deturpados. Afinal, já são pelo menos três décadas de mediocridade nas salas de aula da educação básica e de desprezo aos educadores. Pelo menos duas décadas de predominância de uma fraca programação televisiva. Cerca de duas décadas de uma espécie de "vamos liberar geral", com relação à produção cultural veiculada nos meios de comunicação. Resquícios de uma sociedade naturalmente contrária à censura vivida na época do Regime Millitar, mas que acaba, ainda que indiretamente, compactuando com manifestações populares no mínimo estranhas como o chamado "funk carioca".
Parece um discurso conservador, é claro. Mas vale lembrar que há alguns anos, mais precisamente em 1992, um cantor chamado Gabriel o Pensador teve uma música sua censurada porque dizia que estava feliz por ter matado o presidente (Collor, na época). Cinco anos depois, uma banda que se manifestava favorável à legalização da maconha, o Planet Hemp, foi presa durante um show por fazer apologia às drogas. Na época, discutia-se até que ponto tais manifestações deveriam ou não ser censuradas.
Hoje, a questão é realmente grave, e ninguém se mobiliza a respeito. Algumas letras de funk fazem exaltação direta ao crime organizado e são hits entre adolescentes. Vale a pena conferir a reportagem do "The Observer" de 2005 e constatar que nada mudou, ou se mudou foi para pior. É verdade também que os veículos de propagação da produção cultural (se é que podemos chamar isso de cultura) são hoje mais diversificados e difíceis de serem controlados. Mas o que mais chama a atenção é a falta de discussão a respeito.
Não é a censura que vai mudar alguma coisa, mas a criação de alternativas que possam substituir esses "lixos culturais". Nas salas de aula, nas igrejas, no terceiro setor, nos clubes e demais organizações da sociedade civil freqüentadas por jovens, há uma necessidade urgente de intervenção que promova o reestabelecimento de uma produção cultural, seja erudita ou popular, mas que não seja enviesada.
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