"Imaginemos uma caverna separada do mundo externo por um alto muro. Entre o muro e o chão da caverna há uma fresta por onde passa um fino feixe de luz exterior, deixando a caverna na obscuridade quase completa. Desde o nascimento, geração após geração, seres humanos encontram-se ali, de costas para a entrada, acorrentados sem poder mover a cabeça nem locomover-se, forçados a olhar apenas a parede do fundo, vivendo sem nunca ter visto o mundo exterior nem a luz do Sol, sem jamais ter visto efetivamente uns aos outros nem a si mesmos, mas apenas sombras dos outros e de si mesmos porque estão no escuro e imobilizados. Do lado de fora, pessoas passam conversando e carregando nos ombros figuras ou imagens de homens, mulheres e animais cujas sombras também são projetadas na parede da caverna, como num teatro de fantoches. Os prisioneiros julgam que as sombras de coisas e pessoas, os sons de suas falas e as imagens que transportam nos ombros são as próprias coisas externas, e que os artefatos projetados são seres vivos que se movem e falam."
Não faz tanto tempo assim. A MTV - aquele canal que antigamente só passava clipes musicais, e hoje passa um monte de outros tipos de programas - fazia todo ano (e acho que ainda faz) uma premiação dos melhores clipes.
Era bacana. Sim, porque por volta de dez, doze anos atrás, tínhamos um cenário rico na música brasileira. As rádios ainda tocavam músicas de qualidade. As bandas dos anos 80, como Legião, Engenheiros e Titãs ainda faziam boa música, mas, além disso, surgiam inúmeras novas alternativas, como o mangue beat de Chico Science. Ah, e tinha o Sepultura também, em ótima fase.
E hoje? Será que a música brasileira está menos criativa?
Não. O que acontece é que ainda há boa música, mas ela não chega aos ouvidos da maioria. Nas rádios e tevês ouvem-se Funk, Sertanejo, Jota Quest e outros lixos. Mas,... por quê?
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4 comentários:
Comecei a escrever e no meio da minha linha de raciocínio (racio símio) fiquei confuso, apaguei tudo e tentei reescrever.
1) As grandes gravadoras não estão perdendo espaço/faturamento?
2) Nos anos 80, Legião, Engenheiros e Titãs não coexistiram com Dominó?
3) Porque a Ivete não pode coexistir com a Mallu Magalhães, Marisa Monte e Vanessa da Mata?
4) Porque o RDB não pode coexistir com o extinto (?) Los Hermanos?
Dito isto, vamos à pergunta:
"E hoje? Será que a música brasileira está menos criativa?"
Não sei se a música brasileira está menos criativa (pelo que tenho ouvido no myspace ou nos shows de uns (nem tanto) anônimos - Ná Ozzetti, Luiz Tatit, Tom Zé, Andreia Dias, Ceumar, Cordel do Fogo Encantado, entre muitos outros - a música brasileira vai muito bem, sim) quem não vai bem é o brasileiro que está cada vez mais menos apreciador da música de boa qualidade. Ou seriam as grandes gravadoras ávidas por dinheiro que empurram a Ivete (ou qualquer outra galinha dos ovos de ouro - acho que nos anos 80 havia várias, e hoje é um ou outro) e coisas afins (num saberia citar muitos outros) goela abaixo? Não dão espaço para escolhas. Vendem como as operadoras de telefone celular vendem seus aparelhos com múltiplas funções. Mas se elas conseguem fazer isso é porque os acríticos não filtram o que recebem. Mas culpa eles não têm de serem assim, acríticos. As pessoas compram "cultura" por status e não porque a melodia ou a letra tocam-nas. Isso sim parece que diferencia essa década da década de 80 em que boas bandas faziam sucesso. Esse "isso sim" acima se refere ao aumento da falta de crítica do brasileiro e ao mercantilismo da cultura. Tanto uma coisa como outra sempre existiram, mas só vêm aumentando.
Seria a culpa do sistema capitalista que só quer fazer dinheiro e mais dinheiro ainda que se perca a arte, a poesia, o amor?
Três trechos de música do Engenheiros que acredito que caiba bem aqui:
"Isso me sugere muita sujeira
Isso não me cheira nada bem
Tem muita gente se queimando na fogueira
E muito pouca gente se dando muito bem"
"Todo mundo tá comprando os mais vendidos"
"A juventude é uma banda numa propaganda de refrigerantes"
O meu medo é que com a massificação da Mallu Magalhães, Marisa Monte e Vanessa da Mata, eu passe a ouvi-las como hoje eu ouço Pour Elise, que se tornou ainda mais famosa pelo Liquigás.
eh isso mesmo
vc falou tudo, meu caro amigo valmir
parabéns pelo texto, mas gostaria que outras pessoas mais o lêssem. que tal publicarmos em outros fóruns de discussão?
abraços
Valeu, Felício! Se estiver falando sério msm, pode copiar e colar em qq lugar. O importante é a discussão ;-)
Abraço!
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