segunda-feira, 3 de março de 2008

Cinema e Sociedade

Muito se falou nos últimos meses a respeito do filme de José Padilha "Tropa de Elite". Realmente um grande filme. Tema e roteiro interessantes, boas atuações, e efeitos cinematográficos de "primeiro mundo". Só que outros filmes recentemente produzidos no Brasil atingiram o mesmo nível de excelência, ou até um nível superior. É o caso de "Cinema, Aspirinas e Urubus", "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias" ou "Cheiro do Ralo", os quais não devem absolutamente nada ao filme que acabou vencedor no festival de Berlim.

Mas, sendo assim, por que "Tropa de Elite" provocou tamanha repercussão e tantos debates? Talvez por falar, como "Cidade de Deus", outro ótimo filme recente, de um problema social gravíssimo que afeta a todos os brasileiros: o tráfico de drogas no Rio de Janeiro. Ou talvez por ter dado ao problema um enfoque diferente e polêmico.

As idéia mais impactantes colocadas em pauta após o filme são que a culpa dos problemas decorrentes do crime organizado é, primeiramente, dos jovens de classe média consumidores da droga e, além disso, que somente uma polícia de elite, incorruptível e muito preparada como o Bope pode ajudar a combater o tráfico, já que a polícia convencional não consegue dar conta.

É verdade que tais idéias não são postas sem que haja uma problematização no filme. Mas a leitura que a opinião pública parece ter feito foi extremamente simplificadora. E o filme pode, ainda que sem querer, ajudar a popularizar certas visões ultrapassadas sobre a questão social no Brasil como: "na favela só tem bandido", "bandido bom é bandido morto", "tem que matar mesmo, só assim resolve", "defensores dos direitos humanos são amigos dos criminosos", entre outras. Ou seja, não se deve assistir a "Tropa de Elite" sem que se assista a "Cidade de Deus", pelo menos, e sem que se faça uma reflexão séria e aprofundada a respeito do assunto.

Para se ter uma idéia, um deputado do Rio de Janeiro resolveu fazer um projeto de lei que faria da caveira do Bope um patrimônio cultural da cidade!!! Sem comentários.

Prefiro ficar com "O Ano..." mesmo

6 comentários:

Anônimo disse...

Perfeito.
Só senti mesmo a falta de uma menção à "Estamira" e a "O Céu de Suely".

Anônimo disse...

fala sério!
vc preferiu este filme do que o tropa de elite ?
viajou!?

Anônimo disse...

Oba, achei um espaço pra verborragia:

O grande problema do cinema nacional sempre foi que o brasileiro não consegue ver um filme longa metragem como um simples meio de entretenimento. O formato utilizado para a Tropa de Elite é muito mais voltado para o entretenimento do que para a reflexão, mas o próprio diretor lá pelas tantas escolhe ir pelos caminhos dse "crítica social" e etc, para poder polemizar e, subseqüentemente, vender mais.

O filme no fim fica um monstro de Frankenstein: cenas que vocÊ vê em seriados policiais como "The Shield" (passa no AXN, é bem legal, por sinal) e/oiu filmes norte-americanos como "Nascidos para Matar" (o 'treinamento' do BOPE foi quase que copiado deste filme) e cenas onde os diálogos levam a idéias sociais polêmicas (jovens sustentando o tráfico e/ou dicotomia entre sociedade vítima e marginais bandidos); ou seja, um filme cuja posição é em cima do muro, entre entretenimento e crítica social.

Eu voto para que o cinema nacional perca essa visão de pura crítica social, eternizada pela esquerda artística brasileira que domina o meio, e dê espaço para filmes de puro entretenimento. Ninguém deve ser obrigado a ter que escolher somente entre ler "Assim Falava Zaratustra", do Nietzsche ou uma "Odisséia" de Homero após ter lido um "A República" de Platão.

Deixe o pessoal poder pegar um Douglas Adams pra rir um pouco ou um Clive Barker pra ler sangue...

Anônimo disse...

Caro u, não sei se foi lá pelas tantas que o diretor decidiu pela crítica social, já que a primeira frase do filme já é algo como: o comportamento humano depende menos do caráter dos indivíduos e mais das circunstâncias sociais imediatas.
E mais, para mim a visão do diretor era cheia de juízo de valores e não em cima do muro. No filme, os jovens que usam drogas foram apontados como financiadores do sistema (vilões) e o BOPE (mocinhos) como os salvadores da pátria, cheios de virtudes, e que matam os bandidos (favelados?).

Anônimo disse...

Olá pessoal
Eu achei que o filme é muito bem feito, só não gostei desse negócio de que a culpa é dos maconheiros. Até porque maconha não deveria ser proibida. né?
um grande abraço a todos

Anônimo disse...

Anônimo, colocar jovens que usam drogas como financiadores do sistema (vilões) e o BOPE como mocinhos pode ser um subterfúgio para chocar e provocar a reação adversa. Seria algo como provar um ponto A por uma argumentação absurda de seu oposto B. Quem acreditava em B vê sua realidade estourada em sua frente e passa a pensar um pouco mais sobre isso...

Só que não fica claro. Os mais radicais em A se radicalizam e os em B tb. Pronto, taí o muro.

Quanto ao que o Felício disse, enquanto maconha for legalmente proibida, quem compra financia um sistema ilegal.

Agora, se é pra legalizar ou não, isso se torna outro debate. Inclusive, um bom argumento pró-legalização é o acima. Outro que complementaria seria o de "quem usa usa porque quer e arca com as conseqüências sozinho". Mas daí as leis de trânsito deveriam ficar mais pesadas contra motoristas embriagados (alcoolizados ou drogados).

E o Brasil teria que deixar de ser paternalista...